População de Gaza está desesperada por comida, diz diretor da ONU
4 minutos de lecturaSegundo Carl Skau, vice-diretor do Programa Mundial de Alimentos da ONU, nove em cada 10 famílias não estão conseguindo se alimentar todos os dias em Gaza enquanto continua o conflito entre Israel e o Hamas
Um alto funcionário do setor de ajuda humanitária da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou neste sábado (9/12) que grande parte da população da Faixa de Gaza está passando fome à medida em que os conflitos armados na região continuam.
Carl Skau, vice-diretor do Programa Mundial de Alimentos da ONU, disse que apenas uma fração dos suprimentos necessários conseguiu entrar em Gaza. Segundo ele, 9 em cada 10 pessoas não conseguem comer todos os dias na área.
As condições em Gaza tornaram as entregas de alimentos “quase impossíveis”, disse Skau. “As pessoas estão desesperadas por comida”.
Por outro lado, Israel afirma que deve continuar os ataques aéreos a Gaza para “eliminar o Hamas e trazer os reféns israelenses para casa.”
O porta-voz das Forças de Defesa de Israel, o tenente-coronel Richard Hecht, afirmou à BBC que “qualquer morte e dor de um civil é dolorosa, mas não temos alternativa”.
“Estamos fazendo tudo o que podemos para entrar o máximo possível na Faixa de Gaza”, disse Hecht.
Em resposta, Israel fechou as suas fronteiras com Gaza e começou a lançar ataques aéreos no território, e também restringiu as entregas de auxílio das quais a população civil de Gaza depende para sobreviver.
O Ministério da Saúde, que é controlado pelo Hamas, afirma que Israel matou mais de 17,7 mil habitantes de Gaza durante sua campanha de retaliação, incluindo mais de 7 mil crianças.
Apenas a passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, está aberta, permitindo que quantidades limitadas de ajuda humanitária cheguem a Gaza.
Nesta semana, Israel concordou em abrir a passagem de Kerem Shalom, em Gaza, nos próximos dias – mas apenas para a inspeção de caminhões de ajuda humanitária.
Inicialmente, os caminhões iriam então para Rafah para chegar em Gaza.
Carl Skau, da ONU, afirmou que “não estava preparado para o medo, o caos e o desespero” que ele e a sua equipe de assistência encontraram durante sua viagem a Gaza nesta semana.
Segundo ele, havia “confusão em armazéns, pontos de distribuição com milhares de pessoas desesperadas e famintas, supermercados com prateleiras vazias e abrigos superlotados com banheiros cheios.”
A pressão internacional gerou um cessar-fogo temporário de sete dias em novembro, o que permitiu que alguns suprimentos entrassem na Faixa de Gaza, mas o programa de alimentação da ONU insiste que agora “é necessária uma segunda passagem de fronteira para satisfazer a demanda”.
Nove em cada dez famílias em algumas áreas passam “o dia inteiro sem qualquer alimento”, segundo Skau.
Habitantes de Khan Younis, no sul de Gaza, uma cidade agora cercada em duas frentes por tanques israelenses, dizem que “a situação é terrível.”
O médico Ahmed Moghrabi, chefe da unidade de cirurgia plástica e queimaduras do único centro de saúde remanescente da cidade, o hospital Nasser, não conseguiu segurar as lágrimas ao falar à BBC sobre a falta de alimentos.
“Tenho uma filha de três anos, ela sempre me pede um doce, uma maçã, uma fruta. Não tenho como fornecer. Me sinto impotente”, disse.
“Não tem comida suficiente, só arroz, você acredita? Comemos uma vez por dia, só.”
Khan Younis tem sido o foco de fortes ataques aéreos nos últimos dias e o chefe do hospital Nasser diz que sua equipe “perdeu o controle” sobre o número de mortos e feridos que chegam às instalações.
O governo de Israel afirma que os líderes do Hamas estão escondidos em Khan Younis, possivelmente em uma rede subterrânea de túneis, e que está batalhando para destruir as capacidades militares do grupo.
No sábado, o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, acusou os Estados Unidos de serem “cúmplices de crimes de guerra”.
O governo de Joe Biden vetou uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que pedia um cessar-fogo imediato em Gaza.
Dos 15 membros do Conselho de Segurança, 13 países votaram a favor da resolução. O Reino Unido se absteve na votação e os EUA foram o único país a votar contra a resolução.
Abbas afirmou que responsabiliza Washington pelo “derramamento de sangue de crianças, mulheres e idosos palestinos em Gaza nas mãos das forças de ocupação de Israel.”
Já o embaixador dos EUA na ONU, Robert Wood, defendeu o veto e disse que a resolução apelava a um «cessar-fogo insustentável que deixaria o Hamas com a capacidade de repetir o que fez em 7 de outubro».
Um cessar-fogo temporário de sete dias terminou há pouco mais de uma semana. Durante a trégua, 78 reféns foram libertados pelo Hamas em troca de 180 prisioneiros palestinos detidos em prisões israelenses.
Por volta de 100 pessoas detidas pelo Hamas em Gaza.
No sábado, foi confirmada a morte do israelense Sahar Baruch, de 25 anos, segundo um comunicado do kibutz onde ele vivia.
A morte foi confirmada depois que o braço armado do Hamas divulgou um vídeo na sexta-feira que mostrava as consequências violentas de uma operação fracassada das forças de Israel para libertar um refém.