Pesca de frota chinesa no Atlântico Sul aumenta oito vezes
4 minutos de lecturaO esforço de pesca (horas de pesca por embarcação em um determinado período) da frota chinesa no Atlântico Sul se multiplicou por oito nos últimos 10 anos. Isso foi revelado pela organização Círculo de Políticas Ambientais (CPA), com base em dados de satélite fornecidos pela plataforma Global Fishing Watch.
O estudo da CPA mediu o “esforço de pesca aparente”, que é calculado a partir da velocidade das embarcações e das manobras que realizam. A conclusão é que, nos últimos 10 anos, a atividade de pesca da frota chinesa aumentou de 59.204 horas, em 2013, para 469.912 horas, em 2022.
“O estudo mostra uma tendência geral de crescimento desmedido e brutal do esforço de pesca que nenhum ecossistema marinho pode suportar”, disse à Diálogo Milko Schvartzman, ecologista, especialista em pesca ilegal e um dos autores do estudo. “O mais grave é que o próprio governo chinês menciona que está capturando cada vez menos, apesar do aumento do esforço”, acrescentou Schvartzman.
Imagem de um pesquei chinês no Atlântico SulA menção está em um documento publicado pelo escritório de Desenvolvimento Oceânico em Weihai, China, em 12 de novembro de 2019. “Nos últimos anos, o número de embarcações de pesca operando em alto mar no sudoeste do Atlântico continuou a aumentar e a produção de lulas continuou a diminuir”, diz o documento do escritório chinês. “No entanto, há recursos pesqueiros abundantes na zona econômica exclusiva de 200 milhas náuticas da Argentina”, acrescenta o documento.
De acordo com Schvartzman, a redução da captura, apesar do aumento do esforço de pesca chinês, é “um sinal claro de que o ecossistema está em uma situação de superexploração”.
Manobras ilegais
O direito internacional estipula que os Estados têm o controle sobre as águas dentro das 200 milhas náuticas ao redor de suas costas. As embarcações chinesas pescam em torno da milha 201, no limite da linha da Zona Econômica Exclusiva dos países, onde é território de águas internacionais. No entanto, “centenas dessas embarcações usam diferentes manobras para transpassar esse limite e continuar pescando além da área permitida, sem que as autoridades chinesas implementem quaisquer sanções efetivas até o momento”, disse o site argentino Infobae.
A frota pesqueira chinesa “não tem nenhum tipo de controle e não respeita as épocas de reprodução das espécies”, adverte a CPA em seu estudo. Entre as espécies capturadas, estão elefantes e leões marinhos, golfinhos, tubarões e raias. Algumas são protegidas devido ao seu status vulnerável, alertou a ONG. “Essas embarcações [chinesas] também realizam sua atividade gerando altíssimos níveis de descargas poluentes e utilizam trabalho escravo”, observou a CPA.
A operação da frota pesqueira chinesa em águas distantes é promovida pelo governo de Pequim por meio de ações como subsídios ao combustível ou, diretamente, pela participação acionária do Estado nas empresas proprietárias das embarcações, informou o site argentino iProfesional.
“A falta de dados sobre volumes e espécies de captura e espécies, além da inexistência de informações sobre capturas incidentais, pode ser um alerta de que o ecossistema marinho está sendo levado ao limite, sem que se possa ter uma previsão mínima de quando ocorrerá um possível colapso e evitá-lo”, disse a CPA.
Mais horas de pesca
O número de embarcações pesqueiras que chegam ao sudoeste do Atlântico vindas de outras latitudes, principalmente da China, quintuplicou na última década, de acordo com o estudo da CPA. “Em 2013, 74 embarcações de bandeira chinesa foram contabilizadas, chegando a 346 em 2022, uma diminuição em comparação com o pico de unidades de 2021, que foi de 429”, diz o estudo. “Embora se estime uma diminuição de embarcações no último período pesquisado, mesmo assim, o esforço de pesca continuou a aumentar.”
“Em outras palavras: há menos embarcações, mas elas estão pescando mais horas. E estão pescando ainda mais horas do que quando havia mais embarcações”, explicou Schvartzman. As embarcações da frota chinesa usam centenas de lâmpadas para atrair as lulas para a superfície. O efeito é o de uma cidade flutuante que recorre as costas da América do Sul.
Todos os anos, o céu noturno sobre a plataforma marítima argentina é iluminado pela frota pesqueira de águas distantes da China, o maior infrator do mundo de pesca ilegal, não declarada e não regulamentada, disse a organização InSight Crime, especializada no crime organizado na América Latina, em um relatório de agosto de 2022.
Embarcações chinesas desligam sistema de rastreamento
O esforço de pesca pode ser calculado graças às transmissões dos sistemas de identificação automática (AIS). Esses dispositivos fornecem informações sobre uma embarcação para outros navios e às autoridades costeiras automaticamente, diz a Prefeitura Naval Argentina em seu site.
Desde 2000, por determinação da Organização Marítima Internacional, as grandes embarcações pesqueiras são obrigadas a se equipar com AIS e a mantê-lo em funcionamento. Entretanto, muitas embarcações chinesas desligam o AIS perto da milha 201, ocultando sua verdadeira localização.
“Nem todas as embarcações mantêm seu AIS ligado o tempo todo, portanto, pode haver esforço de pesca não detectado, assim como pode haver presença de embarcações não detectadas”, disse o estudo da CPA. Por esse motivo, Schvartzman esclarece que as conclusões do estudo são conservadoras. “Seguramente, há mais horas de pesca [das embarcações chinesas]”, explicou o especialista.
FONTE: Diálogo Américas
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