Busca por desaparecidos, bebês em bunker e apreensão: as cidades israelenses atacadas pelo Hamas três semanas depois
4 minutos de lecturaO documentarista brasileiro Gabriel Chaim percorreu cidades israelenses perto da fronteira com Gaza e relata a tensão por novos ataques do Hamas.
Três semanas depois dos ataques do Hamas, parentes e amigos sofrem com a falta de informação dos desaparecidos em Israel. Em reportagem especial para o Fantástico, o fotógrafo documentarista Gabriel Chaim acompanhou o trabalho de militares que visitaram os locais atingidos pelos terroristas.
O Kibutz Be’eri fica no Sul de Israel, a apenas oito quilômetros da fronteira de Gaza, foi destruído pela guerra. Por lá, viviam cerca de 1.100 pessoas antes dos ataques do Hamas e o local era conhecido pela produção artesanal e pelas ruas tranquilas, com parques e brinquedos para as crianças.
Hoje, só dá para ver os destroços. Algumas casas nem existem mais e quase tudo foi ao chão. Ao todo, segundo as estimativas do governo de Israel, 130 pessoas morreram no ataque do dia 7 de outubro.
Agora, voluntários procuram por informações dos moradores que estão desaparecidos. São pessoas que se arriscam em lugares onde ainda se ouve o intenso barulho de aviões e bombas por perto.
Uma das netas dos fundadores do kibutz vive a espera de notícias dos parentes. A mulher de 34 anos está grávida e conta como foi a última conversa com os pais, no dia do ataque.
“Meu irmão estava ligando para os nossos pais, até que minha mãe atendeu e ela sussurrou que eles estavam escondidos num abrigo, ouvindo tiros o tempo todo. Cerca de uma hora depois eu recebi uma mensagem dizendo que eles nos amavam. E essa foi a última notícia que eu tive deles”, conta.
Ela já sabe que o pai foi assassinado pelos terroristas, mas acredita que oito parentes ainda estão sequestrados em Gaza, incluindo a mãe dela, tios e sobrinhos.
“Eu não entendo nada de táticas de guerra, mas eu espero que tudo esteja sendo feito para resgatar meus parentes o mais rápido possível”, completa.
Na tarde deste domingo (29), centenas de pessoas se despediram de um casal que vivia em Be’eri. Entre as homenagens, flores e um mural com fotos de momentos antes da guerra. Eles não puderam ser enterrados onde viviam porque o local está isolado. Por isso, o funeral teve que ser em um kibutz que fica no mediterrâneo, há 80 quilômetros de Be’eri.
Centenas de pessoas se despediram de um casal que vivia em Be’eri. — Foto: TV Globo/Reprodução
Equipes de busca
Acompanhado de militares do Exército de Israel, Gabriel Chaim visitou outra área destruída pelos terroristas. É o Kibutz de Kfar Aza, de onde é possível ver a fronteira de Gaza. Por lá, cerca de 10% dos moradores foram mortos ou sequestrados, segundo as Forças de Defesa de Israel.
Quem comanda a operação nessa região é o coronel Golan Vach, que há 31 anos dedica a vida ao Exército israelense e gerencia missões de busca, como no terremoto da Turquia, em fevereiro deste ano, e aqui no Brasil, na tragédia de Brumadinho.
Coronel particiou de buscas em Brumadinho (MG). — Foto: TV Globo/Reprodução
O coronel estava entre os 136 militares que trouxeram mais de 16 toneladas de equipamentos especiais para Minas Gerais, em janeiro de 2019. A tecnologia de Israel prometia ajudar a localizar os corpos de pessoas que estavam debaixo da lama de minério, depois do rompimento da barragem da Vale. Eles ficaram cinco dias no Brasil
Mesmo com toda a experiência em operações humanitárias, o militar se impressionou com a violência dos ataques.
“Eu estive em muitos lugares que sofreram com terremotos, furacões, ataques terroristas e eu nunca vi nada como o que eu vi agora…é algo que eu nunca pensei em enfrentar”, relatou.
Mais ao norte de Gaza, a cidade de Ashkelon tinha 130 mil moradores. Desde que começaram os ataques, números do governo de Israel indicam que 30 mil pessoas abandonaram suas casas.
E é nessa localidade que funciona o hospital mais perto do norte de Gaza, a 10 quilômetros da fronteira. Por lá, ficaram apenas os reféns mais graves e uma unidade neonatal foi montada dentro de um bunker.
A maioria é de bebês que nasceram prematuros na semana dos ataques e que precisam de cuidados especiais. Por lá, trabalham lado a lado palestinos e israelenses.
“Você pode ver aqui na nossa emergência, médicos judeus, árabes e palestinos, trabalhando juntos para salvar vidas e cuidar de pacientes. Nós somos profissionais. Quem nos procurar vai receber atendimento”, conta o médico-chefe do hospital.