Ipea mantém previsões de crescimento do PIB para 2021 e 2022
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O desempenho recente dos indicadores econômicos de atividade levou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a manter em 4,8% e 2% a previsão feita em junho deste ano para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país) para 2021 e 2022, respectivamente. As informações são da Agência Brasil.
No fim de setembro, pesquisadores do Ipea analisarão de novo o cenário para ver o que há de mais relevante e farão a revisão dos números para o PIB e previsão para o terceiro trimestre. Para essa divulgação, viu-se que não havia motivos para mexer no que se previu há três meses, disse nesta sexta-feira (27) à reportagem o economista Leonardo Mello de Carvalho, pesquisador do Ipea e um dos autores do estudo.
Carvalho ressaltou, porém, que há um pequeno viés de baixa para 2022. "Existe a possibilidade de trabalhar com um número menor quando se soltar a nova revisão, no mês que vem." Segundo o pesquisador, identificaram-se alguns sinais de risco para o cenário econômico, como, por exemplo, a inflação, que "está um pouco pior do que o previsto anteriormente". Carvalho disse que, com os aumentos da taxa básica de juros, já existe um aperto este ano, embora haja uma defasagem para que tais efeitos ocorram na atividade econômica. Espera-se que esse efeito negativo ocorra em 2022, um pouquinho acima do que se tinha calculado há três meses. "Em grande medida, por isso, foi colocado esse viés de baixa", explicou Carvalho. Daí, o Ipea trabalhar com crescimento menor do que 2% para o próximo ano. "Mas ainda está valendo o crescimento de 2%, por enquanto."
Para o segundo trimestre do ano, o Ipea trabalha com a perspectiva de o PIB apresentar resultado próximo da estabilidade, em comparação com o trimestre anterior, mostrando alta em torno de 0,1%. Por indicadores econômicos, Carvalho destacou que o setor de serviços, especialmente o segmento de serviços prestados às famílias, que tem sido muito prejudicado pela crise sanitária, ainda se encontra em nível 22,8% abaixo do de fevereiro de 2020, um mês antes do início da pandemia de Covid-19. "Ainda existe um espaço muito grande para a recuperação desse segmento, e isso puxaria o setor de serviços como um todo. Por sua vez, este é o setor que mais pesa no PIB e que mais emprega na economia. Por isso, acreditamos que ele seja um driver importante para a evolução do PIB ao longo do segundo semestre". A previsão é de alta de 0,7% para o PIB de serviços no segundo trimestre, em comparação ao trimestre anterior dessazonalizado, com alta de 4,8% no ano.
Sobre a pandemia, Leonardo de Carvalho afirmou que houve um retrocesso reduzido, com total ainda pequeno da população vacinada com a segunda dose da vacina contra a Covid-19. De qualquer modo, o pesquisador disse esperar que, ao longo do segundo semestre, a mobilidade continue no processo positivo e que isso abra espaço para recuperação dos segmentos de serviços que ainda estão muito abaixo dos níveis pré-pandemia, acarretando efeitos positivos também no mercado de trabalho.
De acordo com a Carta de Conjuntura divulgada nesta sexta pelo Ipea, a recuperação do setor de serviços deve continuar a ser estimulada pelo avanço da vacinação. A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que a alta de junho para o setor (1,7%) foi a décima segunda variação positiva em 13 meses.
A expansão foi generalizada entre os segmentos, com destaque para os serviços prestados às famílias, (8,1% na margem e 72,7% sobre junho de 2020). No entanto, esse segmento ainda se encontra em patamar 22,8% inferior ao de fevereiro de 2020, antes da pandemia. Para o mês de julho, os pesquisadores estimam que a receita de serviços apresente acomodação, com queda de 1% na série sem efeitos sazonais, atingindo patamar de 14,2% acima do mesmo período do ano passado.
Dados divulgados pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF) do IBGE indicam que a produção física do setor recuou 2,5% no segundo trimestre deste ano. O destaque positivo foi o segmento das indústrias extrativas, que cresceu 4,8%, estimulado pela alta nos preços internacionais de commodities (produtos agrícolas e minerais comercializados no mercado exterior) e pelo crescimento das importações mundiais. Em contrapartida, a indústria de transformação recuou 3,8%, devido à escassez de matéria-prima e ao aumento de custos.
Carvalho disse, entretanto, que as pesquisas de confiança têm mostrado melhora generalizada em termos setoriais ao longo de 2021, de maneira significativa, em patamares que já denotam otimismo. "É uma coisa boa, porque, apesar das restrições que ainda existem no cenário, como a possibilidade de crise hídrica, escassez de matérias-primas para indústria, ainda assim, consegue-se ver uma melhora da confiança dos agentes de maneira geral, sejam empresários ou famílias. O setor de construção é um deles", afirmou.
O pesquisador lembrou que houve crescimento relevante de crédito imobiliário para pessoa física e jurídica, o que é um bom termômetro para medir como anda a demanda nesse mercado. "São indícios de que o segmento está dando sinais de melhor desempenho". O Ipea estima que a produção industrial de julho tenha recuado 1% na série sem efeitos sazonais, com alta de 1,4% na comparação com o mesmo período de 2020. Para o segundo trimestre de 2021, o Ipea prevê retração de 0,7% para o setor da indústria, em razão do problema de insumos.
A retomada de alguns programas de transferência de renda pelo governo central, que resultam em impacto positivo nas vendas, e a melhora da dinâmica epidemiológica da Covid-19 no Brasil em maio e junho ajudam a explicar o crescimento do comércio varejista no segundo trimestre do ano. Segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE, as vendas no varejo encerraram o segundo trimestre com alta de 3%. Para julho, a estimativa do Ipea é que o resultado ficará próximo da estabilidade, com pequeno recuo de 0,4%.
Carvalho ponderou que, embora o comércio tenha lidado melhor com as restrições impostas pela pandemia, a migração do consumo que seria gasto em serviços para o comércio de bens pode tirar um pouco o ímpeto do comércio. "Com o setor de serviços se recuperando e voltando às suas atividades normais, esperamos que esse processo se reverta um pouco. Talvez, por esse lado, o comércio de bens perca um pouquinho do seu ímpeto, pela volta do consumo de serviços". A previsão do Ipea para o consumo de bens e serviços aumentou, passando de 11,7% para 12,5% sobre o segundo trimestre de 2020. Para o resultado anual, o incremento esperado evoluiu de 3,9% para 4,1%.
Para o setor agropecuário, o estudo do Ipea usa as novas previsões de crescimento do PIB agropecuário, que foram divulgadas ontem (26) e mostram redução de 2,6% para 1,7% em 2021. A queda da previsão de crescimento deve-se, principalmente, a uma estimativa menor do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) para a safra de milho, cuja queda evoluiu de -3,9% para -11,3%.
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