29/04/2024

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Rendimentos dos Treasuries nos EUA atingem máximas desde 2007 e abalam mercados: movimento vai continuar?

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Trajetória da dívida pública americana, petróleo e dados macroeconômicos são principais variáveis para a trajetória da curva americana

Por Vitor Azevedo

Os treasuries yields, que são os rendimentos pagos pelas dívidas emitidas pelo governo norte americano, atingiram na última terça-feira (3) suas máximas desde meados de 2007, antes da crise dos subprimes. Sua permanência nos atuais patamares, contudo, divide analistas.

Esses ativos, considerados os “mais seguros do mundo”, têm muito peso sobre as Bolsas mundo afora, já que quando suas taxas sobem há um fluxo de capital para eles. Em grande parte, é a alta deles que vêm puxando para baixo os benchmarks americanos e o Ibovespa.

Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, explica que os principais fatores que levam a essa alta são: a permanência da economia dos Estados Unidos em um patamar resiliente; a alta do petróleo; e a política fiscal expansionista da maior economia do mundo. Enquanto os dois primeiros tópicos são mais discutidos, a terceira fica mais de lado.

“A política fiscal está indo no sentido oposto da política monetária, que está tentando esfriar a economia e fazer a inflação cair. Como a política fiscal é expansionista, você tem dois efeitos. O primeiro na expectativa de inflação do mercado, já que a economia se torna mais resiliente. O segundo, na emissão de títulos, oferta de títulos”, contextualiza.

Projetos do presidente Joe Biden, como o de infraestrutura, colocam capital na economia e a movimentam, impedindo um maior recuo dos preços. Além disso, aumentam o endividamento do país.

“O aumento da relação entre dívida e PIB dos Estados Unidos levantou temores em relação a saúde fiscal do país, principalmente após o rebaixamento do Rating da dívida soberana americana pela Fitch”, fala João Romar, head de internacional da InvestSmart XP.

Além disso, o aumento do déficit primário do país levou a necessidade de aumento na emissão de títulos do Tesouro Americano, o que também tende a reduzir o preço e elevar a taxa.

E é justamente no que tange a trajetória da dívida pública americana e no fiscal que os mais pessimistas se escoram ao falar que ainda veem espaço para mais altas ou para a permanência delas onde estão.

Ray Dalio, por exemplo, sinalizou recentemente que não tem uma visão positiva para os títulos da dívida pública dos EUA neste momento, mesmo com vários contratos estando nas suas máximas desde 2008.

Após uma palestra recente em evento, falas do famoso investidor viralizaram por ele ter defendido investimentos em ativos de alta liquidez e por ter afirmado que não quer, nesse momento, ter dívidas ou bonds.

Dívida dos Estados Unidos puxa treasuries

A razão para tal, ele explicou, reside no fato de que muitos títulos do Tesouro dos EUA são prefixados. Isto é, o rendimento é determinado no momento da aquisição e os títulos podem perder valor se as taxas de juros do país aumentarem, uma dinâmica similar ao que ocorre com o Tesouro Prefixado no Brasil, devido aos efeitos da marcação a mercado.

O gestor acredita que é mais provável que os Estados Unidos enfrentem períodos desafiadores, com elevação dos juros e tensões inflacionárias, decorrentes do crescimento da dívida nacional, que atingiu a cifra inédita de US$ 33 trilhões neste ano.

Para cobrir tal montante, é provável que o Tesouro dos EUA precise emitir mais títulos, com taxas mais elevadas que as vigentes, depreciando os títulos já existentes.

Recentemente, o país evitou, ao menos momentaneamente, o chamado shutdown, com o Congresso chegando a um acordo sobre o orçamento. No entanto, os gastos continuam a subir e ainda há muita divergência entre democratas e republicanos.

Neste ponto, Miraglia, da Integral, vê que no curto e médio prazo o Tesouro americano deve maneirar na sua emissão de títulos, evitando novas altas. Quando há muita oferta, as autoridades se veem obrigadas a aumentar as taxas, buscando compradores.

“A gente acha que a velocidade com que as taxas subiram é uma velocidade muito elevada, que cria até algum tipo de risco sistêmico. Por isso, vemos que a tendência agora no curto prazo é ter uma acomodação, parar de subir de uma forma tão alta e talvez até fechar”, expõe, reforçando ainda a queda do petróleo vista na última quarta-feira ajuda no recuo.

“É um fenômeno raro, que tende a impactar os ativos no curto prazo, mas no longo prazo as taxas tendem a se acomodar, uma vez que os títulos do tesouro americano são considerados balizadores para todo o mundo e, até o momento, não há nenhum outro ativo que o substitua”, corrobora Romar, da InvestSmart.

Os Estados Unidos passaram, apenas neste ano, por duas ameaças de ver uma paralisação dos seus serviços públicos. No final de maio, o país teve de suspender o teto da dívida, para evitar um problema do tipo. Já neste mês, o Congresso aprovou um financiamento dos departamentos federais.

Divididos

A equipe do Julius Baer é uma das que acredita que ainda há motivos para enxergar que o fim de ano pode trazer notícias positivas aos investidores no que tange os ativos de risco.

“Ainda podemos ter mais fraquezas até meados de outubro, de acordo com os padrões sazonais. Continuamos, porém, a acreditar que o bull market ainda está vivo e que os mercados se moverão para cima até o final do ano após o período sazonalmente fraco de agosto a outubro”, mencionou a equipe do family office, em relatório divulgado no fim da semana passada.

Para eles, dados econômicos recentes apoiam a visão de que a economia dos EUA terá um pouso suave, enquanto o processo de desinflação permanece intacto, ”embora não de maneira linear”.

Hoje, a publicação de dados macroeconômicos americanos vieram mistos. Enquanto os PMIs [índice de gerentes de compras, na sigla em inglês] e a pesquisa ADP de empregos vieram mais fracos do que o esperado, os encomendas à indústria superaram as estimativas.

Do lado dos dados que vieram mais fracos, o PMI de serviços  de setembro teve leitura de 50,1, ante consenso de 50,2, enquanto o PMI não manufatura ficou em 53,6, dentro do consenso, mas recuando frente a leitura de 54,5 do mês anterior. O ADP de setembro veio em 89 mil, contra 153 mil do consenso da Refinitiv. Já as encomendas à indústria cresceram 1,2% em agosto na base mensal, ante consenso de 0,2%.

Se a inflação do país recuar enquanto a economia continua forte, é possível que o pior cenário seja evitado.

“O ADP, que é considerada uma proxy do Payroll, trouxe um dado abaixo das expectativas, isso assentou um pouco mais a curva de juros”, diz Ariane Benedito, economista e RI da Esh Capital.

Para a Esh Capital, contudo, mesmo que dados macroeconômicos mais fracos levem o Fed a não subir novamente suas taxas, a curva de juros pode continuar em patamares elevados.

“Nós temos uma visão de que se o Fed não fizer um reajuste de 0,25 ponto percentual, esses juros podem até tender a não realizar mais altas, mas isso não quer dizer que a gente teria um recuo no curto prazo”, diz. “Enxergamos mais uma estabilização nos patamares atuais, ou uma queda bem marginal. Isso porque é previsto, até o final do ano, uma desaceleração mais gradual do nível de atividade econômica, o que também acaba pressionando as contas públicas”.

Ao mesmo tempo em que um recuo da economia norte-americana tira pressão do lado inflacionário, ela também pode acabar impactando negativamente a arrecadação – o que, de qualquer forma, pressionaria a curva de juros na atual situação.